Fique por dentro de “10 segundos para vencer” em quatro rounds
O mineiro Daniel de Oliveira, o diretor José Alvarenga Jr. e o ator Osmar Prado revelam como o trabalho foi feito
Por Izabela Ventura
Está em cartaz nos cinemas de BH “10 segundos para vencer”, filme-biografia
“peso pesado” pra mostrar que brasileiro sabe contar [e produzir] histórias de força
e superação. Dirigido por José Alvarenga Jr., o filme conta a trajetória de Éder
Jofre (Daniel de Oliveira), um dos boxeadores mais importantes da história.
Conhecido como "Galinho de Ouro" por ter sido eleito o maior peso galo do esporte, Éder tem a história narrada a partir da relação com o pai, o rigoroso ex-pugilista argentino Kid Jofre (Osmar Prado).
Entrando no clima do filme, o Sou BH e a Claro Brasil* entrevistaram com o diretor e os dois protagonistas, separando os temas por rounds. Confira!
1º round: Relação com o boxe
José Alvarenga Jr.
Começou justamente com uma luta que vi do Éder contra o cubano
José Legra [retratada no filme], quando eu tinha 13 anos. Ele foi campeão na
categoria peso pena. Eu estava na casa da minha avó e meu pai ligou a TV
dizendo que eu ia gostar. Nunca tinha visto boxe e aquela experiência foi muito
forte, me marcou. Depois desse “detonador do esporte” para mim, me interessei e
comecei a acompanhar lutadores como Muhammad Ali e George Foreman, além de
filmes.
Daniel de Oliveira
Aos sete anos, troquei minha coleção de Playmobil por um par
de luvas de boxe. Foi quando eu morava no Iraque e vi o filme “O Campeão” na
casa de um amigo, e me empolguei. A brincadeira acabou porque a luta virou
briga, mas a ligação com o esporte começou aí.
Osmar Prado
Éder se sagrou campeão em 1961, quando eu tinha 13 anos.
Naquela época, ele era tão importante para o boxe quanto o Pelé para o futebol.
Parávamos para escutar as lutas no rádio e Éder era um grande astro, um herói
brasileiro. Fiquei muito impressionado por ter sido convidado para interpretar
o pai dele, Kid Jofre.
2º round: Preparação
para o filme
José Alvarenga Jr.
O boxe já rendeu filmes como “Rocky” e “Touro Indomável”, sempre
falando da questão da superação. Só que em “10 Segundos”, a história é narrada a
partir de uma relação entre pai e filho. O desafio foi, mais do que acompanhar
as referências visuais de outras produções, estudar as construções ao longo do
ringue.
Daniel de Oliveira
Faço Krav Maga há mais de dez anos; já fiz jiu-jitsu e
capoeira. Então o esporte sempre fez parte da minha vida. Quando fui escolhido
para interpretar o Éder comecei a treinar boxe, e o fiz por 11 meses – segui
treino e dieta corretamente. Estudei bastante o Éder, vi como ele é, sua forma
de falar. Foi demais conhecê-lo. Passei uma semana com ele, saindo e
conversando muito; me deixei levar e isso ajudou bastante. O Éder é uma pessoa
muito emotiva, que se comove muito com a própria história e fala sobre os pais
com os olhos marejados.
Osmar Prado
No começo eu tinha poucas informações sobre Kid, mas fiz o
dever de casa. No processo, acabei relembrando e fazendo uma transferência dos
conflitos que tive com meu pai quando jovem. Contrariamente ao Kid, o meu não
queria que eu fosse artista. [No enredo, Éder abriu mão do sonho de ser
arquiteto]. Tivemos grandes embates, assim com os personagens. Essa alusão me
auxiliou no aspecto da firmeza na atuação. É claro que, com o tempo, compreendi
mais o meu pai; as brigas se desfizeram e conquistei a admiração dele. Foi
bonito o amadurecimento que eu tive, assim como o Éder teve. Tivemos nas mãos
uma pérola, que fomos polindo com muita delicadeza.
3º round: As filmagens
José Alvarenga Jr.
Fizemos questão de reproduzir locuções originais de rádio
para dar emoção às cenas. Para simular a luta com Legra precisamos de cerca de
200 figurantes nas filmagens, e utilizamos truques de câmera para aumentar a
plateia. Mas a luta com Joe Medel exigiu um trabalho muito meticuloso de
imagens e, principalmente, de som e edição de áudio. Simulada em Los Angeles,
tivemos que criar diálogos e gritos da torcida em inglês e espanhol (pois a plateia
estava lotada de mexicanos). Outro desafio foi criar uma espécie de
“esquecimento” dos resultados das lutas com o público que já acompanhou o Éder
e sabia de antemão o que iria acontecer.
Daniel de Oliveira
Foram tranquilas porque treinei bastante e contava com bons
profissionais. Muitas vezes eu nem prestava atenção nas câmeras, porque era
boxe pra valer, de verdade. Foi muito divertido e prazeroso fazer esse filme.
Osmar Prado
Interpretar um estrangeiro é sempre um desafio, mas tive
certa facilidade porque sou descendente de imigrantes espanhóis e italianos.
Minha mãe veio para o Brasil da Espanha quando criança, então passei a vida
toda ouvindo-a falar com sotaque. Fui escorregando um pouco entre esse jeito de
falar e o paulistano, o que deu um colorido legal ao personagem. Uma
curiosidade das filmagens é que, como Kid era fumante e eu não fumo há mais de
30 anos, fizeram um cigarro especial para mim, sem nicotina.
4º round: lições
aprendidas
José Alvarenga Jr.
Uma das minhas maiores referências em filmes desse segmento
foi “Menina de Ouro” (2004), pelas idas e vindas de tempo entre as lutas. Havia
uma desconfiança do treinador em relação à lutadora, sem aquele entusiasmo
inicial. O rigor que o técnico impõe ao pupilo é a marca do filme. Em “10
Segundos”, o treinador também é o pai do aluno, então a relação afetiva vai
mexendo com a profissional. Éder começa a mercê do treinador e pai [Kid Jofre/Osmar
Prado]. No decorrer da história ele vai amadurecendo e questionando essa ordem.
Depois, com mais autonomia, ele percebe que precisa sim do Kid, mas desejando
essa presença. Essa é uma demonstração de crescimento da relação do
menino/homem e de seu pai.
Daniel de Oliveira
Temos que saber valorizar nossos heróis, nosso esporte e as
pessoas que fazem a diferença no país. Devemos ter mais orgulho de nós mesmos,
da nossa história.
Osmar Prado
No esporte, a firmeza e a disciplina são necessárias, mas
não se pode perder a sensibilidade. Éder nos mostrou a luta daquele período e,
que, com tenacidade, coragem e fé no que acredita, é possível chegar ao topo.
Em um esporte que não tinha tradição no Brasil, se tornar campeão é muita
coisa. O filme mostra também questões de caráter, pois Éder venceu todas as
suas lutas de forma limpa; nunca abusou de golpes baixos, cabeçadas. Ao voltar
ao esporte após três anos de pausa, ele foi campeão novamente, mostrando-se
resiliente.
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