Do Vera Cruz para o mundo: Flávio Renegado comemora 10 anos do lançamento do primeiro álbum
Relembrando o começo da carreira, o cantor promete uma nova turnê e mais projetos para o futuro
Por Júlia Alves
Tudo começou com um garoto
ouvindo Racionais. É assim que Flávio de Abreu Lourenço, ou Flávio Renegado, gosta
de pensar sobre a carreira. Um encontro com o Rap que o permitiu se encantar
pela música e viajar o mundo fazendo sua arte, mas sem esquecer do Alto Vera
Cruz, onde nasceu. Com dez anos do lançamento do primeiro disco – Do Oiapoque a
Nova York –, a ideia agora é reviver os caminhos que trilhou com uma releitura
do álbum, trazendo novos artistas, novos shows e um novo sonho.
Aos 13 anos, ainda Flávio de Abreu, a identificação com Racionais MC’s foi imediata. “Eu fiquei maluco. Eu queria fazer aquilo, o que eles cantavam era muito direto, as letras eram como a minha vida e eu queria cantar isso também”, conta Renegado. Mas, segundo o próprio cantor, o contato com uma cultura mais próxima e tangível foi um pouco mais cedo. A capoeira, que fez dos 11 aos 17 anos, permitiu que o jovem Flávio se conhecesse melhor e entendesse seu papel dentro da comunidade. Algo que o Flávio adulto levou para a vida.
O início da carreira
Esse contato com a cultura desde cedo no Vera Cruz permitiu que Renegado lutasse para que outros também tivessem essa oportunidade. “Eu comecei a militar muito cedo na associação do bairro. Depois de um tempo fui convidado para ser diretor e, nesse período, a gente batalhou muito para ter o primeiro centro cultural de uma favela em BH. Ali fui me encontrando. Fundei um grupo de Rap muito relevante na cena local [o Negros da Unidade Consciente] e participei de outros projetos”, afirma o cantor, que tem essa como sua primeira base e escola para a música.
O grupo, fundado em 1997, foi sua porta de entrada para os palcos e de lá não saiu mais. Com o sucesso da experiência musical, Renegado partiu para a carreira solo em 2006 e, dois anos depois lançava seu primeiro disco. Do Oiapoque a Nova York foi o início de suas experiências musicais. Conhecido pelas misturas de diferentes ritmos, Flávio sempre quis unir suas paixões. “Eu sempre quis fazer essas misturas, sempre quis trazer o Rap para mais perto da música brasileira. Misturar com o samba, com o baião, maracatu e outros ritmos”, comenta.
Segundo o cantor, Nação Zumbi, O Rappa e Planet Hemp foram algumas das inspirações nacionais para trilhar esse caminho e reinventar seus conceitos de música. E o primeiro álbum tem essa pegada bem brasileira, com pitadas de vários estilos.
Márcio Rodrigues
O relançamento e o futuro
Foram mais de 20 mil cópias e uma turnê internacional que o levou para Cuba, França, Inglaterra, Espanha, Estocolmo, Amsterdã, Austrália e Estados Unidos, além de percorrer dezenas de cidades brasileiras, somando 148 shows em dois anos de tour com o primeiro disco.
E, para celebrar essa turnê tão emblemática, o cantor relança seu trabalho em vinil nesta segunda-feira (12). Na sexta, a releitura estará disponível em todas as plataformas digitais. O novo projeto vai contar com a cantora Manu Dias interpretando Meu Canto e uma capa feita pela dupla Denis Leroy e Leonardo Cesario, que também executaram a arte de 10 anos atrás.
O cantor ainda fará uma turnê comemorativa com o primeiro show em São Paulo, com a participação especial de Simoninha; Rio de Janeiro, dividindo o palco com João Cavalcante e Pretinho da Serrinha; Brasília e, claro, Belo Horizonte, no festival Somos Todos Black.
Agora, olhando para o futuro, Renegado se mantém otimista. “Continuo o mesmo menino de 10 anos atrás, querendo devorar o mundo e levar minha arte adiante”. E esse futuro já conta com o projeto Suíte Masai, em parceria com a Orquestra Ouro Preto.
Misturar o Rap e a música clássica está sendo um sonho realizado para o cantor, que se diz muito feliz ao ver os moradores do Vera Cruz conhecendo melhor o ritmo erudito. Já sobre um futuro projeto com a Orquestra Ouro Preto, Renegado não descarta a vontade de colocar no papel outro sonho. “É um projeto difícil, mas que não falta vontade de realizar”.