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Cine Theatro Brasil celebra 90 anos com programação gratuita

Primeiro prédio em estilo art déco de BH e que durante alguns anos foi o edifício mais alto da capital terá 12 horas de atividades



Créditos da imagem: Ricardo Laf
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Durante alguns anos, o fascínio da então provinciana população de BH por conhecer a cidade do alto era tamanho que as pessoas pagavam ingresso para visitar o terraço, de onde se avistava toda a Serra do Curral
Thiago Alves
12/07/22 às 09:37
Atualizado em 12/07/22 às 09:37

Primeiro prédio em estilo art déco de Belo Horizonte, o Cine Theatro Brasil, localizado na Praça Sete, detinha até 1943 o título de edifício mais alto da capital mineira. Durante alguns anos, o fascínio da então provinciana população por conhecer a cidade do alto era tamanho que as pessoas pagavam ingresso para visitar o terraço, de onde se avistava toda a Serra do Curral. Projetado pelo arquiteto Alberto Murgel e inaugurado no coração de BH em 14 de julho de 1932, o Cine completa 90 anos nesta quinta-feira (14). Para comemorar, o espaço preparou um dia inteiro de atividades gratuitas. 

As atrações começam às 8h, com a Banda da Guarda Municipal, na entrada principal, e seguem até as 21h, com uma apresentação de artes cênicas no Grande Teatro. Para relembrar os tempos áureos daquela que já foi a maior sala de exibição do país, sessões de cinema no Teatro de Câmara com grandes clássicos: O Garoto (Charles Chaplin), Scarface (Howard Hawks), M, O Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang) e Festim Diabólico (Alfred Hitchcock). Haverá ainda visitas guiadas com o time do Educativo para quem quiser conhecer um pouco mais dos bastidores do centro cultural que movimenta o coração da cidade.

“Convidamos o público a ocupar o Cine e o seu entorno, desfrutando de atrações que não apenas resgatam parte da nossa história como também reforçam a qualidade da nossa programação e a preocupação desse espaço em democratizar o acesso à cultura. O Cine é um ponto de encontro onde a cidade se apresenta, e é aqui que queremos reunir as pessoas”, convida Sandra Campos, gerente do Cine Brasil. 

Como o próprio nome já diz, o Cine Theatro Brasil foi construído como um espaço para abrigar as diversas formas de arte: teatro, ópera, música e, claro, a sétima arte. Ao longo dos anos, o espaço tornou-se também ponto de encontro da sociedade belo-horizontina e recebia os tradicionais bailes de carnaval que aconteciam nos foyers. Além do antigo teatro com 1.827 lugares, durante décadas, o prédio abrigou dezenas de salas comerciais. Ali funcionou o tradicional Bar Brasil e o primeiro Restaurante Popular, inaugurado por Juscelino Kubitschek em 1º de maio de 1952.


Construção do Cine teve concreto importado da Inglaterra

Inspirado na arquitetura francesa, com volumes geométricos bem definidos, pouca ornamentação, vitrais de ferro e vidro martelado e revestimento das fachadas em pó de pedra, a construção também foi pioneira na utilização de concreto armado, importado da Inglaterra.

Seu estilo arquitetônico abriu caminho para novas edificações nas duas décadas seguintes. Os edifícios Ibaté (Rua São Paulo), Capixaba (Rua Rio de Janeiro), o Centro dos Chauffeurs (Rua Acre) e as sedes da Prefeitura Municipal e dos Correios (Av. Afonso Pena) são bons exemplos. Essa tendência fez com que Belo Horizonte se tornasse uma das cidades brasileiras de referência no estilo Art Déco.


Linha do tempo

Em 1927, foi iniciada a construção daquele que seria o prédio mais alto de Belo Horizonte, o Cine Theatro Brasil. A jovem capital planejada de Minas Gerais completava 30 anos e sua população era de apenas 40 mil habitantes. Em 14 de julho de 1932, o espaço foi inaugurado. Na estreia, foi exibido o filme “Deliciosa”, produção norte-americana estrelada por Janet Gaynor e Raul Roulien. O ator esteve presente e mais de 5 mil pessoas se amontoaram na inauguração, em duas sessões. Na época, a estimativa era que a capital mineira registrava 116 mil moradores.

Em 1970, a Seleção Brasileira era tricampeã do mundo enquanto o cinema hollywoodiano explodia com suas produções. Diante desse enorme sucesso, o Cine Theatro Brasil foi adaptado para receber exclusivamente sessões de cinema. Em 1990 surgem os shoppings centers e, com eles, um novo conceito de lazer e consumo, com cinemas considerados mais seguros e confortáveis. As salas de rua começam a entrar em declínio em todo o Brasil. 

Já em 1999, sem conseguir resistir à concorrência das salas de cinema multiplex, o Cine Brasil encerra suas atividades. Após sete anos de incertezas, a Fundação Sidertube adquire o prédio e inicia o processo de restauração, com o intuito de transformá-lo em um novo centro de cultura para a população de Belo Horizonte. Em 2013, o Cine Theatro Brasil Vallourec é reinaugurado e reaberto para a população mineira, com a exposição Guerra e Paz, de Cândido Portinari.