Obras anti-inundação na Senhora do Carmo deveriam ter sido concluídas em 2016; Savassi terá nova intervenção
Conjunto de obras essenciais para evitar alagamentos deveria ter sido concluído há mais de um ano, conforme edital
Júlia Alves/SouBH
Por Camila Saraiva e Júlia Alves
Considerado essencial para minimizar o risco de alagamentos e transtornos nos períodos chuvosos em Belo Horizonte, um conjunto de obras caminha para atravessar mais uma temporada de chuvas sem conclusão. As intervenções, que deveriam ter sido finalizadas no primeiro semestre de 2016, estão atualmente atrapalhando o trânsito na avenida Nossa Senhora do Carmo. O trecho, após seguidos atrasos, deve ser liberado neste sábado (18), conforme promessa da PBH, mas as obras estão longe do fim.
O edital - lançado ainda em 2014 - prevê uma série de intervenções nas galerias por onde passam o córrego Acaba Mundo, pela região Centro-Sul da capital, e da avenida Olinto Meireles, no Barreiro. Com a ordem dada em julho de 2015, o conjunto de intervenções - que custou R$ 4 milhões aos cofres públicos - deveria ter sido concluído no ano seguinte. No entanto, o trecho da Nossa Senhora do Carmo começou apenas em meados deste ano com a previsão de término antes de outubro, que marca o início do período chuvoso.
Mas, em novo atraso, a obra não foi finalizada até meados de novembro, acarretando em dor de cabeça aos belo-horizontinos que precisam trafegar pela via e, pior, em risco de alagamentos. Questionada pelo SouBH, a Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital) insiste em alegar que não houve atrasos e argumenta que, "por se tratar de obras dentro de galerias, o contrato fica paralisado nos períodos chuvosos".
Além de não estar prevista no edital, a suspensão sugerida pela superintendência está sendo ignorada pela própria administração municipal, já que a previsão é de que as obras sejam finalizadas no próximo sábado. A reportagem também procurou a responsável pelas intervenções, mas a construtora G Maia LTDA não respondeu aos questionamentos.
Histórico
As intervenções nas galerias pelas quais passa o córrego Acaba Mundo compreendem trechos subterrâneos das avenidas Bandeirantes, Uruguai, Nossa Senhora do Carmo, Contorno, Afonso Pena, Carandaí e Andradas - até desaguar no Ribeirão Arrudas, com uma extensão de 3,4 km. Em 2015, foram realizadas as obras no trecho entre a Praça JK até próximo da rua Grão Mogol.
"À época, objetos inusitados foram encontrados dentro da galeria como 12 carrinhos de supermercados, bicicletas, bolas, colchões, além de lixos e entulhos", relembra, por nota, a Sudecap. Após o fim do trecho da Nossa Senhora do Carmo, a manutenção da galeria seguirá para a avenida do Contorno até a rua Professor Moraes. Outro ponto das atividades no córrego Acaba Mundo está na avenida Afonso Pena e dentro do Parque Municipal, com previsão de terminar no fim deste ano.
Júlia Alves/SouBH
Mas em breve outra via importante para a Savassi será parcialmente interditada: Rio Grande do Norte. "As informações serão divulgadas em momento oportuno. A sinalização será devidamente feita pela BHTrans", se limita a informar a gestão municipal.
Importância
Com um relevo acidentado e o
problema do grande índice de impermeabilização, BH sofre durante o período de
chuvas. As obras em galerias de córregos e bacias têm o objetivo de evitar a
cheia desses corredores. Porém, segundo especialistas, muitas intervenções não ocorrem dentro do prazo
previsto e acabam criando mais problemas.
Com a intensificação das
enchentes e outras ocorrências principalmente com as precipitações de curta
duração e alta intensidade, os trechos mais propensos a alagamentos se tornam
um problema recorrente. “Quando há
um problema localizado e uma insuficiência de drenagem, principalmente pela
grande área coberta do solo da capital, essas obras de recuperação podem
garantir a funcionalidade dessas galerias”, explica ao SouBH o engenheiro hidráulico e professor da UFMG Nilo Nascimento.
Porém, resolver uma questão pontual é somente um paliativo para a situação da capital mineira. “As ações em determinados
pontos são importantes. Essas obras devem acontecer nos trechos mais críticos de
BH e ajudar a conter parte do problema. Mas é necessária uma solução a longo
prazo e mais permanente trabalhando em conjunto, tais quais cobertura verde (plantas no telhado de construção para absorver a água), canalização, reservatórios e técnicas de infiltração”, comenta o engenheiro.
Júlia Alves/SouBH
Outro ponto que intensifica o
volume de alagamentos e problemas relacionados às chuvas é o descarte ilegal de
lixos. Para amenizar, educação ambiental e conscientização
da população não bastam, segundo Nilo Nascimento. “Ações por parte da PBH precisam ser mais intensas, com
fiscalização de descarte ilegal de lixo, mais locais próprios para esses
rejeitos e obras pontuais. Essa mudança vai muito além da educação ambiental”,
afirma o professor.