BH destina apenas 1% dos resíduos coletados diariamente à reciclagem
São recolhidas todos os dias 2,8 mil toneladas de resíduos; SLU alega falta de estrutura
Breno Pataro/PBH
Por Camila Saraiva
Todos os dias, a gestão pública e os belo-horizontinos jogam fora - literalmente - 99% dos resíduos coletados pela cidade. Esse percentual significa que, a cada 2,8 mil toneladas de lixo produzidas diariamente, apenas 20 são destinadas à coleta seletiva. Além da deficiência educacional e cultural do morador, a estrutura da prefeitura é precária e pouco evoluiu desde quando foi criada, há cerca de 20 anos: só 15% dos residentes são atendidos.
Atualmente, a SLU (Superintendência de Limpeza Urbana) faz a coleta seletiva em 36 de 487 bairros existentes em BH - o que significa, segundo a administração municipal, cerca de 400 mil habitantes de um total de 1,4 milhão. Nenhum bairro de Venda Nova, Norte e Noroeste é atendido - na Pampulha, por exemplo, apenas São Luiz tem o apoio do caminhão.
Há, ainda, os containers coloridos onde podem ser depositados o material reciclável. Mas nesse ponto a administração também deixa muito a desejar. Ao todo, são 80 pontos em uma área de 330 km². Na região Norte, por exemplo, onde moram cerca de 194 mil, existe apenas um ponto para uma área de 33 km² - número do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Pnud.
“A coleta seletiva em BH deveria ser muito maior. A SLU é competente, mas não tem recurso e nem o apoio que deveria ter. Para o sistema funcionar bem tem que ter iniciativa política, campanhas permanentes e conscientização da sociedade, que aparentemente não está interessada nesse assunto ainda”, afirma ao SouBH o professor na área de resíduos da Escola de Engenharia Sanitária e ambiental da UFMG, Raphael Tobias Vasconcelos Barros.
'Filantropia'
Segundo a SLU, o serviço não cobre a cidade toda pois as
cooperativas e associações que recebem o material da coleta seletiva não
suportariam a demanda, uma vez que o projeto foi inicialmente planejado para
auxiliar o serviço dos catadores de rua de BH.
“A coleta seletiva sempre teve
finalidade social, gerando trabalho e renda para as pessoas que já faziam esse
serviço na cidade. Fizemos um piloto para a coleta porta a porta e as regiões
Centro-Sul e Oeste apresentaram maior potencial para repassar material às
cooperativas. Agora muitos galpões estão se capacitando, fazendo uma triagem
mais rápida e melhorando processos internos e assim podemos avaliar uma nova
implantação de coleta seletiva em outros bairros”, explica a
chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli.
Para o professor de gestão de
recursos hídricos e consultor ambiental Ricardo Coelho, a coleta seletiva é
muito mais do que uma ação filantrópica e deve estar ligada à indústria tecnológica
e empresarial que tenha o know how de
como reciclar todos os materiais coletados na cidade, levando o mínimo aos
aterros.
“A coleta seletiva em BH não está inserida em cadeias produtivas de
materiais, que é quando uma matéria volta ao ciclo comercial depois de
reciclada, pois não é normatizada. Assim, nenhuma empresa pode atuar na
reciclagem do óleo de cozinha, que por exemplo na Suíça é reciclado há 30 anos,
porque não há regras para a atuação desse setor, a tributação não está definida”,
avalia o especialista.
Previsão
O plano municipal de gestão de resíduos, divulgado no início do ano pela
Prefeitura de Belo Horizonte, prevê a ampliação da coleta seletiva em outros
11 distritos até 2018, alcançando o índice de 20% da população
atendida pelo Programa Municipal de Coleta Seletiva no sistema porta
a porta realizado por cooperativas de catadores. Assim como também
pretende, em até 20 anos, chegar a 11% no índice da coleta de resíduos
domiciliares destinados à reciclagem.
Esta é a segunda reportagem de uma série do SouBH sobre a destinação de resíduos na capital mineira. No dia 24 de outubro, foi publicada a matéria que revelava: PBH planeja acabar com a coleta de lixo porta a porta em 20 anos.