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Força das ruas! Movimento 'Quem Ama Não Mata' volta à ativa e planeja ações contra o feminicídio

Com nova onda de violências contra a mulher, movimento que marcou a década de 80 na capital retorna promovendo a união de vários segmentos da sociedade



Créditos da imagem: Marcos Santos/USP/Agência Brasil
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Redação Sou BH
11/11/18 às 12:05
Atualizado em 01/02/19 às 19:33

Por Júlia Alves

Em meio à efervescência das ruas, os movimentos sociais em defesa dos direitos das mulheres estão ganhando cada vez mais destaque no Brasil. E, em BH, um movimento emblemático voltou à ativa. O Quem Ama Não Mata, criado na década de 1980, está tomando as ruas da capital novamente e promete atos culturais e sociais em apoio à causa. O primeiro será nesta sexta-feira (9).  

As mortes de Heloísa Ballesteros e Maria Regina Souza Rocha, assassinadas pelos maridos há quase 40 anos, foram catalizadores, para o início do Quem Ama Não Mata na capital mineira. Neste ano, as mulheres se reuniram novamente para lutar por seus direitos. Segundo uma das organizadoras, a jornalista Vilma Fazito, o momento atual influenciou o retorno.

“O período que vivemos foi o grande impulsionador para a volta do movimento. Esse clima de violência, apesar das leis protetivas, tem feito das mulheres vítimas constantes apenas por serem mulheres. Por isso, achamos interessante voltar o ato e reeditá-lo”. Ainda de acordo com a jornalista, essa nova edição será focada na diversidade, abordando movimentos de mulheres trans, negras, LGBTQ e ampliando a abrangência.

Para este novo ato (confira mais informações aqui) já foi confirmada a presença de importantes representantes dos mais diversos tipos de mulheres, como Rede de Mulheres Negras, Rede Afro LGBT, Marcha das Vadias, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Associação das Prostitutas e UFMG.

O movimento

No dia 18 de agosto de 1980, cerca de 400 mulheres se reuniram nas escadarias da Igreja São José para protestar contra a violência de gênero. Encabeçadas por importantes personalidades e feministas da época, o movimento foi destaque nacional e fico conhecido como Quem Ama Não Mata após pichações anônimas aparecerem em muros da cidade com a frase.

Com reinvenção do movimento, a ideia é continuar os atos e transformar os encontros em um manifesto por escrito que será entregue às autoridades e terá reinvindicações e propostas para garantir a proteção das mulheres na sociedade.

Segundo Vilma Fazito, a proposta é manter as ações e crescer o Quem Ama. “O objetivo é transformar o movimento em uma ONG. Queremos continuar na defesa das mulheres de forma oficial, mesmo que não seja uma ONG, esperamos criar uma rede de apoio e fazer parcerias com instituições já existentes para manter a luta contra a violência de gênero”.


Fernando Frazão/Agência Brasil

O quadro da violência e a evolução das leis

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos últimos nove anos, cerca de 10 mil mulheres foram vítimas de feminicídio ou tentativa de homicídio, de acordo com dados levantados pela Central de Atendimento à Mulher. A cada dois segundos uma mulher é violentada no país, com dados do Relógios da Violência, do Instituto Maria da Penha.

Desde 1980, muita coisa mudou, mas os dados ainda assustam. Porém, com as leis protetivas, as mulheres ganharam uma maior defesa. A lei Maria da Penha, de 2006, a inclusão do feminicídio como homicídio qualificado e lei de importunação sexual são alguns exemplos. Segundo a advogada criminalista Denise Maldonado, são leis relativamente recentes, mas que são avanços importantes na defesa da mulher e “são formas de coibir a violência doméstica”, assim como os movimentos sociais que vocalizam essa luta.

Mas, para a advogada, é preciso conscientizar a população e reforçar os diversos tipos de violência que a mulher sofre. “É importante para a mulher conhecer os seus direitos e a sociedade falar sobre o tema e aprofundar sobre os vários tipos de violências existentes. É preciso existir uma abordagem multidisciplinar da temática, com a imprensa, juristas, psicólogos e as entidades governamentais trabalhando em conjunto”.

Com redes de apoio como Delegacias de Mulheres, núcleos de defesa e outros canais de denúncia se aliando a uma legislação mais eficiente, a advogada acredita na possibilidade de conscientizar as pessoas, não somente as mulheres que sofrem agressões, a denunciarem e abordarem esse tema tão importante.