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Dia do Perdão: conheça histórias de superação que mostram a importância de perdoar

Jocélia Brandão e Keiko Ota são exemplos de mães que sofreram grandes perdas mas escolheram transformar a tragédia em luta



Créditos da imagem: Arquivo Pessoal/Jocélia Brandão
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Redação Sou BH
04/09/18 às 18:37
Atualizado em 01/02/19 às 19:39

Quinta-feira (30/08) é celebrado o Dia Nacional do Perdão. A data foi criada pela deputada federal Keiko Ota (PSB-SP) em homenagem ao filho Ives, sequestrado e morto em 1997. O dia tem o objetivo de trazer a discussão do perdão e da importância de nutrir o sentimento em nossas vidas.

Na região metropolitana de BH, um caso parecido com o de Keiko mobilizou a população. Em dezembro de 1992, a pequena Miriam Brandão, de apenas cinco anos, foi sequestrada em sua casa, em Contagem. O desfecho foi trágico, a garota foi assassinada por uma funcionária da farmácia da família e dois cúmplices. Mas a socióloga Jocélia Brandão, mãe de Miriam, não deixou que a tragédia e a raiva ditassem os rumos da sua vida.

“Eu acredito que a gente deve fazer um exercício para saber que está apta ao perdão. Porque perdoar é uma decisão, você não tem simplesmente a vontade de perdoar alguém, isso não vai acontecer. Você deve chegar à conclusão de que é preciso, se esforçar para aquilo, porque você sabe que é o melhor caminho para você mesma”, afirmou Jocélia ao Sou BH.

A construção do perdão

Por mais que queiramos, o perdão é um caminho árduo. Jocélia demorou para chegar a este momento e precisou de muito autoconhecimento. “Tudo foi com o tempo, foi uma construção lenta. Eu demorei 14 anos desde o crime contra minha filha para conseguir verbalizar o perdão. Eu sabia que o ódio só estava me destruindo, me arruinando por dentro. Mas foi necessário tempo”, comenta a socióloga.

Segundo a psicóloga Evanizia Maia perdoar é um ato mais para si do que para o outro. “Quando você trabalha o perdão terapeuticamente é preciso equilíbrio emocional, porque ficar agarrada nessas questões mal resolvidas torna seguir em frente algo extremamente difícil. E é importante lembrar que perdoar não é aceitar o que o outro fez ou compactuar com as ações, é se livrar do peso da pessoa, deixá-la ir e seguir em frente”.

Ainda de acordo com a psicóloga, esse é o caminho fundamental para a recuperação e o conforto de quem está sofrendo. “A pessoa precisa exercitar o perdão para seguir em frente e caminhar sem o peso da culpa e do ressentimento. O perdão, acima de tudo, é mais importante para quem perdoa”, pontua Maia.

Os caminhos do perdoar

No caso de São Paulo, os pais de Ives Ota, Keiko e Masataka, decidiram perdoar os assassinos do filho. E, por ele, a mãe conseguiu criar o Dia Nacional do Perdão.

Em BH, Jocélia também seguiu o caminho do perdão e transformou a tragédia em ajuda ao próximo. Em memória da filha, ela criou o Instituto Miriam Brandão. O objetivo é amparar e ajudar outras vítimas da violência e em situação de fragilidade social. A socióloga acredita que, já na semana que vem, o local começará a funcionar e, em outubro, terá início uma parceria com a Faculdade Batista para garantir ajuda psicológica e jurídica aos atendidos pelo instituto.

No momento atual

Mesmo para quem nunca passou por uma grande tragédia, perdoar pode ser um exercício difícil. Na atual conjuntura social do país, em que as pessoas entram em embates nas redes sociais devido a visões políticas, morais e éticas, o ato de perdoar pode se mostrar um desafio.

“Tudo é uma construção, leva tempo e maturidade emocional para chegar ao perdão. Principalmente no momento político atual, em que a convivência em sociedade e aceitar o outro estão se tornando questões difíceis. Porque podemos não compactuar com a opinião de alguém, mas o respeito é essencial em todos os momentos. É preciso perdoar para conviver com o outro”, comenta Evanizia Maia.