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Quase 90% dos belo-horizontinos que não fazem coleta seletiva culpam a gestão pública

Moradores atribuem a ausência da separação dos resíduos à falta de suporte da Prefeitura de Belo Horizonte



Créditos da imagem: PBH/Luciana Laranja
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Redação Sou BH
26/10/17 às 22:53
Atualizado em 01/02/19 às 19:09


Luciano Laranja/PBH

Você faz coleta seletiva na sua casa? Em BH, cerca de 90% dos moradores que não fazem a separação do lixo culpam a gestão pública pela falha educacional. De fato, o serviço prestado pela Secretaria de Limpeza Urbana (SLU) contempla apenas
36 dos 487 bairros da capital mineira, alcançando 15% da população. No outro extremo, no entanto, mesmo com o precário suporte da gestão pública, 53% dos residentes garantem fazer esse tipo de descarte.

O raio-x do serviço na capital mineira foi traçado em uma pesquisa realizada pela Opinion Box entre os dias 27 e 30 de setembro. 
O levantamento aponta equilíbrio entre os que afirmam fazer coleta seletiva e os que admitem ignorar: 47% desprezam a separação do lixo e os outros 53% garantem fazê-lo. 

Deste último grupo, a imensa maioria - 90%, para ser mais exato - usufrui de um dos suportes da Prefeitura de Belo Horizonte para realizar um descarte mais consciente: 50% usam a coleta feita pelo caminhão e outros 40% deixam nos conhecidos containers coloridos, os oficialmente chamados de LEVs (Locais de Entrega Voluntária). Apenas um a cada 10 belo-horizontinos que fazem coleta seletiva, entrega diretamente a cooperativas e associações.



Sem amparo

Na outra ponta, o mesmo índice - 90% - culpa a gestão por ignorar a coleta seletiva. Apenas 9% justificam o desprezo por achar difícil separar os resíduos - 2% assinalaram a opção "outros". Já 51% disseram que não fazem coleta porque não há ponto de entrega próximo de casa e os restantes 37% culparam a falta do suporte do caminhão, o chamado porta a porta, pelo descuido.

Outro ponto curioso apontado pelo levantamento é de que um a cada três moradores de BH nem sabe se existe ou não algum ponto de coleta seletivo próximo de onde mora. A pesquisa evidencia dois pontos: a estrutura da prefeitura é ineficaz e existe um problema de educação dos moradores. “Há uma conjuntura política que não é favorável à população, mas o problema é mais a falta de vontade de fazer. É preciso educar a população e implantar um sistema mais planejado. Imaginar que as pessoas vão fazer sozinha não funciona”, revela o também especialista em gestão de resíduos, Rafael Tobias de Vasconcelos. 

 


“Todos devem entender que a limpeza urbana faz parte da cidade e todos devem dar sua contribuição", afirma a chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli. Preocupada com esse panorama atual, a Prefeitura de BH criou o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, com planejamento de metas e ações para os próximos 20 anos.

O ponto principal do plano é justamente educar o belo-horizontino para que a separação do lixo seja incorporada no dia a dia e, mais do que isso, que a lógica de apenas despejar os resíduos na rua seja revista. A gestão municipal planeja mais do que dobrar os pontos de coleta - tanto os atualmente chamados de recicláveis quanto os orgânicos - e, aos poucos, acabar com a coleta porta a porta feita pelos tradicionais caminhões. 

Lixeiras

Para 61,5% dos belo-horizontinos, seria muito útil que as lixeiras da cidade tivessem a opção de materiais recicláveis, o que anteriormente já foi testado pela SLU mas não foi levado adiante. “Se já é um custo alto para recolher grandes volumes imagina para pequenos. Já fizemos essa experiência há bem mais tempo e não foi eficiente. Inclusive questionamos se deveria ter até a lixeira comum, porque na verdade quando a gente compara com uma mega referência, que é o Japão, as pessoas carregam o próprio lixo e faz a gestão dele em casa”, afirma Aurora Pederzoli. 

Atualmente, são instaladas pela cidade 26 mil lixeiras fixas e mesmo assim só na Praça Sete são varridos 2,5 toneladas de resíduos por dia. 

Esta é a terceira reportagem de uma série do SouBH sobre a destinação de resíduos na capital mineira. Leia mais sobre o assunto na primeira matéria (PBH planeja acabar com a coleta de lixo porta a porta em 20 anos) e na segunda publicação (BH destina apenas 1% dos resíduos coletados diariamente à reciclagem).