FecharX

PBH planeja acabar com coleta de lixo porta a porta na cidade em até 20 anos

Administração municipal pretende mudar cultura do belo-horizontino visando aprimorar a gestão de resíduos na cidade



Créditos da imagem: PBH/Ana Clara Nunes
Main grey
Redação Sou BH
24/10/17 às 21:52
Atualizado em 01/02/19 às 19:08


Plano da prefeitura prevê substituir os lixeiros por sistema automatizado (Ana Clara Nunes/PBH)

Por Camila Saraiva

Imagine mudar a lógica com a qual você está acostumado desde a infância: caminhões não passarão mais na porta da sua casa recolhendo os sacos de lixo. Pois é exatamente esse o cenário que vislumbra a Prefeitura de Belo Horizonte para, no máximo, 2036. Essa meta - e outras, como a coleta de lixo automatizada, sem a necessidade dos lixeiros - está prevista no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.

O programa faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos, criado em 2010 pelo governo federal para que os municípios criassem planos e cronogramas visando aprimorar a gestão de lixos e ações ecológicas e ambientais nas cidades. Atualmente, o serviço de coleta de lixo domiciliar é feito em toda a capital mineira: caminhões da SLU (Secretaria de Limpeza Urbana) passam uma ou mais vezes por semana recolhendo os resíduos depositados - leia-se todo tipo de lixo - na porta de casa pelos moradores.

Existe, ainda, a coleta seletiva. A prefeitura recolhe os resíduos devidamente separados em tipos (vidro, plástico, papel e metal) em alguns bairros da cidade - 36, para ser preciso - uma vez na semana. Além disso, há 82 pontos espalhados por BH conhecidos como Locais de Entrega Voluntária (LEVs) - conhecidos também como ponto a ponto -, onde estão containers coloridos destinados ao depósito de lixos separados por material.

Mudanças

A meta do plano municipal é ampliar - e simplificar - os LEVs para substituir a tradicional coleta de lixo porta a porta. Em vez de quatro tipos (vidro, plástico, papel e metal), os containers separariam os resíduos em apenas dois: seco, atualmente conhecido como material reciclável; e úmido, todo o restante.

A justificativa da SLU para a mudança fica em torno, principalmente, do alto custo da coleta porta a porta com o transporte dos endereços aos galpões. Nessa linha, a previsão é de que, até 2018, Belo Horizonte substitua os atuais 82 LEVs por 200 novos containers mais modernos espelhados em modelos europeus, que não precisariam da mão de obra dos garis para recolher o material depositado nos locais.

Os novos containers são vedados, impossibilitando a retirada de materiais por terceiros, e não ocupariam espaço nas calçadas pois seriam colocados em vagas de carro no asfalto. Além disso, a intenção é que eles tenham um sistema de alerta de capacidade que avisaria aos responsáveis quando os locais estiverem cheios e pronto para o recolhimento. A tecnologia está próxima, garante a secretaria: o recurso para os novos equipamentos já foi aprovado pelo fundo municipal e o edital para a aquisição está em andamento.

Infogram

“A tendência pelo plano é diminuir cada vez mais o sistema porta a porta e evoluir para o ponto a ponto, também do resíduo domiciliar. A ideia é que o cidadão se comprometa e comece a levar os resíduos que ele gera para o local mais próximo. Esse é um mega desafio, já que todos estão acostumados com o caminhão passado na porta de casa. Pode demorar bastante, mas precisamos começar”, explica ao SouBH a chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli.

Adaptação

Se o senso comum indica que essa mudança poderá encontrar resistência do belo-horizontino, especialistas criticam pontos do plano - como, por exemplo, acumular lixos de muitos moradores em apenas um ponto. “Os locais de entrega desanimam os moradores pela falha na logística na hora de recolher. A frequência é muito baixa e não comporta o volume que as pessoas levam”, afirma o sanitarista da vigilância ambiental em saúde, Francisco Alves Guimarães. "Mas é preciso sim que a sociedade entenda que ela faz parte de um meio ambiente frágil", pondera.

“Precisamos de iniciativas para não produzir tanto lixo. A coleta seletiva é uma parte importante de um sistema maior de gestão, que hoje não é prioridade da cidade por parte de governantes e da sociedade. Priorizar os LEVs tem que dar certo, mas é a combinação de boas práticas que vai fazer uma boa gestão”, opina o professor na área de resíduos da Escola de Engenharia Sanitária e ambiental da UFMG, Raphael Tobias Vasconcelos Barros.

METAS PARA OS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES DENTRO DO PLANO

  • Estímulo ao desenvolvimento das organizações de catadores de materiais recicláveis;
  • Fomento a medidas de redução da geração de resíduos domiciliares;
  • Ampliação da abrangência do Programa Municipal de Coleta Seletiva (papel, metal, plástico, vidro);
  • Ampliação da quantidade de materiais recicláveis coletada em relação aos resíduos domiciliares;
  • Melhoria da taxa de recuperação de resíduos coletados;
  • Ampliação e melhoria da rede de unidades de processamento de materiais recicláveis (P, M, P, V);
  • Retenção de resíduos orgânicos na fonte geradora;
  • Aproveitamento de resíduos orgânicos oriundos da coleta indiferenciada

O plano

O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos foi criado como uma exigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), criada há sete anos, que estabelece que a gestão pública se preocupe em amenizar os efeitos negativos do descarte de resíduos. Além disso, determina que munícipios, Estados e até regiões metropolitanas movimentem projetos sustentáveis e conscientizem a população sobre o tema.

Um dos pontos tratado no plano visa a responsabilidade compartilhada entre os geradores de resíduos. Isso quer dizer que, desde o produtor até o consumidor final, todos devem criar meios sustentáveis para dar um fim aos rejeitos.

Além de resíduos domiciliares, outros segmentos também são abordados no Plano Municipal como industrial, construção civil e serviços de saúde.