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Blocos de Carnaval denunciam ações truculentas da Polícia Militar durante cortejos

Por meio de uma carta aberta publicada no Facebook, mais de 70 blocos repudiam ações desproporcionais da PM



Créditos da imagem: Divulgação/Facebook
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Redação Sou BH
16/02/18 às 13:43
Atualizado em 01/02/19 às 19:13

Por Daniele Franco

Mais de 70 blocos do Carnaval belo-horizontino estão movendo denúncias contra a Polícia Militar mineira por uso de força desproporcional na dispersão de uma série de cortejos neste ano. A questão veio a público por meio de uma carta aberta publicada pelo grupo apontando uma série de ações da PM durante os festejos. O caso já foi encaminhado ao Ministério Público e será levado a outros órgãos nos próximos dias.

A Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público estadual foi a primeira a receber a denúncia, na última quinta-feira (15), e será seguida por ações na Câmara Municipal de Belo Horizonte, na Assembleia Legislativa e na Ouvidoria da Polícia Militar. 
O relato dos blocos que assinaram a carta, entre eles os icônicos Então, Brilha!, Chama o Síndico, Filhos de Tcha Tcha e Angola Janga, é de que “as festas citadas transcorriam em paz e segurança até a PM aparecer”. 

Rafael Barros “Tcha Tcha”, um dos produtores do Filhos de Tcha Tcha (um dos blocos mais antigos da folia de BH), cujo cortejo acontecia na ocupação Paulo Freire no Barreiro, afirma que os militares usaram de força bruta e desproporcional para dispersar foliões remanescentes do desfile que estavam reunidos em um campo sem atrapalhar a via pública. “Eu, como organizador do bloco, sequer fui acionado”, conta Tcha Tcha.

Outro bloco que relata abuso de força policial é o bloco afro Angola Janga, o maior bloco afro de Minas Gerais. Lucas Nascimento, seu co-fundador, reafirma o relato da carta publicada no Facebook e conta que a festa Kandandu – Encontro de Blocos Afro foi interrompida com truculência. “É um absurdo acharem que um grupo de pessoas fantasiadas de borboleta, de unicórnio, vão querer entrar em conflito com a PM, que vão precisar de balas de borracha e spray de pimenta para serem dispersados”, conta.

Tcha Tcha, que também é antropólogo, classifica como absurdo o ato da PM de tentar reprimir violentamente os foliões. “Impedir o povo de ocupar os espaços públicos é uma ação característica de regimes totalitários, fascistas, que impõem toques de recolher e agem com violência para que ele se cumpra”. 
“Exigimos que eles controlem as forças policiais e garantam que elas passem a atuar na segurança daquelas e daqueles que querem brincar o Carnaval”, diz trecho da carta.

Procurada, a Polícia Militar de Minas Gerais afirmou não ter recebido nenhum comunicado oficial e salienta seu respeito às manifestações. “Todavia, sempre que houver ruptura da ordem pública, agirá no sentido de restaurá-la nos limites previstos pelo uso diferenciado da força e do ordenamento jurídico em vigor”, diz a nota (veja na íntegra abaixo).

Confira a carta dos blocos na íntegra:

Confira a nota da PM na íntegra:

A PMMG esclarece que não recebeu nenhum comunicado oficialmente. Respeita qualquer manifestação e acredita no ambiente democrático. A instituição salienta que em quase mil eventos, na capital mineira, não houve destaque para a violência, o que ratifica o trabalho feito, principalmente, pela Polícia Militar devido a sua capilaridade. A PM ressalta que irá sempre atuar em face da prevenção dos eventos – o que foi realizado com eficiência no Carnaval 2018 – todavia, sempre que houver ruptura da ordem pública, agirá no sentido de restaurá-la nos limites previstos pelo uso diferenciado da força e do ordenamento jurídico em vigor.