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Carta ao leitor - Sobre a exposição “QuasePoema”

Impressões de uma jornalista sobre as cartas de Drummond



Créditos da imagem: Débora Gomes
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Cartas de Drummond são como poemas familiares
Redação Sou BH
28/11/14 às 19:46
Atualizado em 01/02/19 às 20:03

Belo Horizonte, novembro de 2014

Querido leitor,

Escrevo para, primeiramente, te convidar a viver um tempo de poesia. Pois é. Não sei se você sabe, mas até dia 18 de janeiro, a Casa Fiat de Cultura recebe a exposição “QuasePoema”, com cartas e escritos de Carlos Drummond de Andrade. Estive lá na última semana do mês e, de tão bonito e acolhedor, tive vontade de morar naquelas galerias. Vou te contar por que, mas, antes, quero te fazer duas perguntas simples: há quanto tempo você não escreve uma carta? E, há quanto tempo você não recebe uma carta?

Foram essas as perguntas que me fiz logo de cara, quando, na segunda sala da exposição, vi vários papéis, simbolizando cartas, dependurados no teto e alguns escritos na parede (algo como amizade, carinho e felicidade). Vim a descobrir depois que essas palavras eram uma espécie de nota promissória, do Banco da Amizade, em que o poeta enviara à cunhada a quantia de 365 dias felizes. Quem, nos dias de hoje, não adoraria receber uma promissória assim, não é mesmo?

Foi ali também que tive contato com a família de Drummond, exposta em uma grande fotografia, ao lado de um de seus poemas. Mas, antes disso, dei algumas risadas com a autobiografia escrita para uma revista, em 1941, reproduzida em uma das paredes da primeira galeria. O texto é um pouco longo, mas vale a pena chegar até o fim, garanto.

Não saia da exposição sem antes entrar na sala escura, em que é exibido o documentário “Consideração do Poema”. Aproveite os bancos feitos por livros para viajar pelas obras de Drummond, narradas por Chico Buarque, Caetano Veloso, Marília Pêra, Pedro Drummond (neto do poeta) e muitos outros.

Mas o mais tocante (e talvez também o que mais atrai os visitantes) é a delicada sala em que estão expostas as cartas que Drummond enviou para a mãe, os irmãos, e até correspondências enviadas pela filha, Maria Julieta. Os manuscritos, cheios de sentimento, dão a impressão de que nem se passou tanto tempo e deixam o poeta ainda mais vivo. Aí acontece toda a mágica da exposição, naquelas letras tortas, originais, que dizem tanto do coração de Drummond. Talvez até mais que seus poemas.

E, se por um acaso você pensar que todas as emoções terminam aí, como eu pensei durante minha visita, já te adianto que não. Depois das cartas, a exposição reserva uma sala com pequenos megafones, nos quais, chegando bem de pertinho, é possível ouvir nitidamente a voz de Drummond declamando seus próprios poemas. É de dar arrepios! Além disso, uma sala de leitura permite o acesso a várias obras do poeta, disponíveis para manuseio, em um ambiente que tem uma linha cronológica da vida do mineiro nas paredes.

Bom. Se você pensou nas minhas duas perguntas do início desta carta, sugiro que pare de lê-la agora e vá fazer uma visita a Drummond e sua família, na Casa Fiat de Cultura. Depois, que tal surpreender alguém com uma carta, dessas escritas à mão, com envelope e selo? Garanto que você reviverá ou despertará sentimentos guardados aí dentro do coração.

Com carinho,

Débora Gomes, jornalista do portal Sou BH.

*Essa matéria em formato de carta é uma homenagem a exposição “QuasePoema – Cartas e outras Escrituras de Drummond”.